História Natural. Martius descreve duas espécies de açacu, as flores monoicas, cálice curto, estames monodelfos, andróforo cilíndrico, anteras verticiladas nas flores masculinas enquanto nas fêmeas o cálice é gomiloso, aplicadas estritamente contra o ovário. As folhas são enroladas com pecíolo biglanduloso por cima. O Açacu é árvore do gênero hura, a qual conta três espécies conhecidas, sendo a mais notável a Hura crepitans, que se encontra também no Brasil, no México e em outras regiões da América Equatorial; árvore alta, de sessenta pés a mais. Os açacus dão frutas esferoidais, repartidas em casulos que se dividem pela metade quando se tornam maduras. As árvores encontram-se nas províncias do Pará e do Rio Negro, são espinhosas e muito copadas.
Análise Química. Por ora não se tem feito análise do Açacu, enquanto já se conhece a composição das amêndoas do Hura crepitans pelas pesquisas do célebre químico Bonastre, as quais encerram óleo gordurento, estearina, goma, parênquima, albumina e sais de cal e de potassa. É muito provável que a Hura brasiliensis contenha idênticos princípios, todavia ainda não se conhece exata análise do Açacu. O que se sabe “é que pela incisão se extrai um suco gomoso, branco pardicento, ou branco avermelhado, diferença que parece proceder da natureza do terreno em que vegeta a árvore; este suco é pouco solúvel no álcool e insolúvel no éter; se espessa e solidifica com dificuldade e vagar; o espessado é escuro pardacento, com aspecto mais de goma do que de resina, e muito solúvel em água; o soluto readquire a cor que tinha no estado de suco quando extraído da árvore e com o mesmo cheiro, porém menos pronunciado. O princípio ativo do Açacu existe em maior força na casca do que no suco, porquanto o cozimento da casca desenvolve mais intensos os efeitos terapêuticos do que o suco em pílulas. Por isso, não havendo cautela no uso do cozimento, aparecem mais depressa os sintomas da gastrinterite. O suco é de natureza acre e cáustica, cuja ação se patenteia. Quando na manipulação deste meio caem por descuido sobre a pele algumas partículas, logo se forma uma grande edemacia coberta de rubor igual ao das erisipelas e de pequenas pústulas pruriginosas e urientes. Esta mesma ação é desenvolvida quando a pele é friccionada pela mistura do suco gomoso do Açacu com qualquer ceroto emoliente”. (Relatório dos Médicos do Pará ao Ex. Sr. Presidente Herculano Ferreira Penna. 24 jan 1848)
Propriedades. Os índios costumam apanhar nos rios os peixes que embebedam com a casca e o suco do Açacu. Martius reputa o suco lácteo um poderoso vermífugo. Desde 1848, o Açacu foi introduzido na Matéria Médica como um valioso remédio para curar a lepra. O cirurgião-mor Cavalcanti d’Albuquerque conseguiu curar uma senhora do Pará de uma ascite por meio do banho e do cozimento da casca de Açacu. O que mais interessa é avaliar as virtudes terapêuticas da Hura brasiliensis contra a morfeia. Consultando-se os documentos seguintes, o relatório dos facultativos do Pará de 24 de janeiro de 1848, o parecer aprovado pela Academia de Sanitaria Médica da Bahia de 9 de julho de 184?, o Relatório da Comissão nomeada pela Universidade de Coimbra de 18 de dezembro de 1849 e a opinião dos Drs. Guilbourt e Merat apresentada à Academia de Medicina do Paris, em outubro de 1848, resulta que o Açacu modifica o caráter da morfeia, sem todavia aniquilar a enfermidade. Nos ensaios praticados pelo Dr. Malcher, **, do Pará a * dos tumores conseguiu desaparecer. Segundo o parecer da Bahia, nada de concludente se tem alcançado pela aplicação do Açacu contra a lepra; o parecer * a falta de experiências próprias assevera que o Açacu é um meio que oferece vantagem e esperança de completo benefício na cura da morfeia, assim como em muitas outras enfermidades da pele por analogia. Em Portugal, as experiências foram mais bem dirigidas sobre quinze doentes do Hospital dos Lázaros; entenderam os membros da comissão que se deviam formular os preparados de Açacu com maior simplicidade possível, para que a ação desta substância não fosse alterada por outro qualquer * e a fim de que os “seus efeitos fossem legítimos e mais significativos, para melhor se poderem avaliar. Os efeitos do Açacu foram enérgicos mais no primeiro parecer do que no segundo. Em quase todos os doentes, sobretudo no segundo período do tratamento, notamos mais ou menos abatimento de forças; pulso mole e fraco, ressentimento das vias gástricas, náuseas, vômitos, dores duodenais e, algumas vezes, diarreia, sintomas de pouca duração mas que se repetiram com frequência, sem reação febril nem sede. O sangue extraído era fluido e descorado: não houve p* nas secreções, a pele parecia só mais flácida. Os preparados de Açacu aplicados topicamente têm ação irritante; o efeito inflamatório que eles provocam minoravam o estado flegmático das tuberosidades e manchas”. O relatório conclui dizendo, “parece-nos, portanto, provável que os preparados de Açacu têm a virtude de modificar as condições orgânicas que dão lugar aos sintomas da Elephantiasis.” O método primitivo e mais acreditado de administrar o Açacu e o que seguem e a recomendam os facultativos do Pará “Fazemos tomar aos morphos doentes uma a duas pílulas, de dois em dois dias, em que entra o suco espesso na dose de um sexto de grão a um grão, podendo-se elevar a maior o número das pílulas, caso se queira preencher a indicação além da alterante; ter para a bebida diária meia libra de cozimento ligeiro feito de um escrópulo até uma oitava da casca para quanto baste de água, e é bebida em duas vezes pela manhã e pela tarde; em lugar de água comum, fazemos beber aos doentes um cozimento emoliente, a fim de evitar que se desenvolvam os sintomas da gastrinterite; fazemos tomar aos doentes banhos gerais compostos do cozimento forte da casca do Açacu ou das folhas do carrapateiro, não só como meio de limpeza da pele, mas também como meio auxiliador para ativar o envoltório da mesma pele. Os doentes que estão em curativo dizem que no dia em que tomam o remédio sentem na cútis formigamentos, e lhes parece que corre um fluido fino e tênue em diferentes paragens da pele, sempre da periferia do corpo para o centro. Nos primeiros dias de uso do remédio, é espantosa a melhora que experimentam os doentes. Depois parece que a moléstia física se não estaciona, ao menos sofre muito lenta modificação; outros doentes dizem que sentem vibrações semelhantes às das eletricidades, porém frouxas e compassadas. A conclusão dos professores Guilbort e Merat é que o Açacu é uma substância venenosa ativa, que se deve administrar com método e prudência, pois é remédio heroico e lícito para empregar contra uma doença tão grave e fatal como a lepra.
Açacu