História Natural. A Contra-erva do México e do Peru, geralmente conhecida na Matéria Médica, tem o tronco herbáceo, as folhas pimatifidas, palmeadas, serreadas e um receptáculo quadrangular. A Contra-erva do Brasil difere desta espécie medicinal. Segundo a descrição de Bernardino Antônio Gomes, a Contra-erva brasileira tem “a raiz tuberosa do comprimento de meia até uma e meia polegada da grossura de meia até uma polegada, quase roliça, muitas vezes quase ovada, por fora cor fosca tirante a ruiva, para o topo quase escamosa, para a base frequentemente anulada a semelhança da raiz da Ipecacuanha, interiormente de cor pálida, compacta. Lançando de todos os lados, principalmente da base, varias radículas lenhosas, de cor ruiva escura, compridas, assoveladas com rugas transversais na parte superior, ramosas; estas radículas cheiram as folhas da figueira e tem um sabor pouco amargo, e um tanto aromático; pelo contrario, o tronco materno pouco ou nada tem daquele cheiro e tem um sabor acre forte que dura por algum tempo na boca, mas quase nada amargo. As folhas são radicais, cordiformes, ovais algumas vezes quase cordiformes, de um e meio até três polegadasmais ou menos de comprimento, da largura de 3/4 até 5/4 de polegada, venosas, um tanto felpudas, de um verde escuro na pagina superior, de um verde mais claro na inferior, onde sobressaem os veios peciolados, levemente crenuladas. Pecíolos mais curtos que a lamina da folha, guarnecidos de uma felpa sutil. Hastes mais longas que os pecíolos, menos porem que as folhas, quase felpudas. Receptáculo do calice comum orbicular, monofilo arrodeado, acenoso, coberto todo de flósculos. Estilete, um persistente. Sementes amareladas, ovadas, quase redondas, um tanto comprimidas, echinosas, mucrosadas, com uma margem aquilhada e oposta um tanto plana e reguada” (Memórias da Academia Real de Lisboa). A Contra-erva brasileira encontra-se em São Paulo, Minas e Pernambuco. A mais preciosa de todas as espécies de Dorstenia, diz Vicente Gomes da Silva, é a que entra no comercio, a qual provem de Minas da Bahia. No Rio de Janeiro encontram-se duas espécies de qualidade inferior, de raiz grossa e mais longa, porem muito pouco aromática. Uma é a Dorstenia drakena, outra a Dorstenia com folhas de jarro. Existem nas outras províncias, outras espécies, a que se chama Tiú ou Tiguassú na Bahia, as duas variedades de Pernambuco descritas pelo Arruda a Dorstenia brionyofolia de Cuiabá, a Dorstenia opifera ou Caiapia de Vellozo, oriunda do sul, a Dorstenia arifolia, graminea do Rio de Janeiro (ver Dorstenia).
Análise Química. Segundo Geiger a raiz contem óleo volátil, extrato amargo, resina, acido livre, fibra lenhosa e amido. A Contra-erva de Minas tem um sabor acre que atua na língua muito tempo, quando as do Rio de Janeiro tem um sabor acre muito tibio; o sabor e o cheiro da Dorstenia brasileira tornam-se mais ativos depois das raízes serem secas, o contrario acontece com a Dorstenia mexicana.
Propriedades. Hoje segundo Guibourt (Hist. des drogues, t.2, p.300), a raiz oficial da Contra-erva tira-se do Dorstenia brasiliensis. Ela goza de reputação merecida no tratamento das febres nervosas, da debilidade geral, e contra as mordeduras de cobras venenosas. “Persuado-me” acresenta Bernardino Antonio Gomes, “que a Contra-erva há de ser vantajosa nas leucoplegmasis, em algumas obstruções em geral nos casos em que convem os remédios acres, tais como são os pós de jarro compostos. A Contra-erva, afirma Cullen, é mais estimulante que a serpentaria, pois é muito mais acre; não deve portanto dar-se em maiores doses como aconselha-se Lewis, mas sim em doses menores do que se costuma-se dar a Serpentaria. Temos um receituário completo de pós, extratos, xaropes, tinturas e pílulas de Contra-erva, porém o melhor modo de administrá-la consiste em fazer com duas oitavas de raiz e uma libra de água em decocção que se aromatiza segundo o gosto dos enfermos e dá uma cheia três vezes ao dia.