Juru-beba, Urumbeba, Cactus cochenillifera, Opuntia cochenillifera, Gerumbeba, Família das cactaceas
História Natural. A Urumbeba dava antigamente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro trinta arráteis Cochenilha ou Coxonilha; existiam grandes plantações em Maricá e Saquarema. A colheita nunca foi objeto de monopólio da Coroa, no tempo dos Vice-reis. O governo comprava o gênero por maior preço para animar os lavradores a cultivá-la, e foi assim que ela, por certo tempo, prosperou nos distritos de Cabo Frio e Ilha Grande. “A Urumbeba, diz Frei Vellozo na memória extraída pelo Mr. Bertholes das observações feitas em Guaxaca por Mr. Thliery de Menonville, publicada em Lisboa em 1790, é uma planta que penetra a terra com uma raiz mestra muito profundamente e, ao mesmo tempo, espalha quase a flor da mesma, muitas raízes fibrosas, horizontais, e de rojo, apenas enterradas uma polegada. O seu verdor goza de vários matizes, segundo as suas diversas espécies. A substância é tenríssima e carnosa, mas torna-se em um duríssimo lenho por força da velhice. É cheia de uma seiva mucilaginosa, que algumas vezes se extravasa como uma goma opaca, farinhosa branca ou amarela, que prontamente se enrija, e se dissolve como a goma mas que tem menor viscosidade e tenacidade. Suas hastes ou talos se levantam em árvores pelo nascimento sucessivo de outras hastes, que saem umas das outras, como enxertadas ou unidas por articulações, mas a aparente solução de continuidade se desfaz pela idade da planta e todas estas articulações desaparecem pelo cozimento das partes. Tais articulações ou ramos trazem folhinhas cônicas, curvas, de uma ou duas linhas de altura, dispostas em quinconce sobre linhas paralelas. Na axila destas folhinhas, se encontra um feixe de sedas inumeráveis, subriscentes, quebradiças, mais ou menos saídas, espalhadas nos dois lados da articulação, achatadas. Espinhos compridos, de seis a trinta linhas, partem do redor deste feixe, agudos, sólidos, perigosíssimas quando pungem e dispostos em roda ou em molhos. Do centro destes e do feixe, se vê sair ou a flor, ou o garfo que é de continuar a haste. A flor sai do topo do cálice armado de sedas e de espinhos. Segundo a espécie de Opuntia, variam de cor. Na Cochonilla urumbeba, as flores são vermelhas, os pétalos são em número de dez a dezoito, redondos, ovados acuminados, os estames são aos centros, os filamentos deitados, a antera oblonga e amarela, o estigma em forma de prego, com cabeça fendida em três e mais partes. Caídas as partes da flor, só fica o cálice com o germe; o cálice se transforma em uma baga oblonga, oval, muitas vezes redonda como um pomo, unilocular, cheia de polpa branca ou carmesim quando é madura. Aninham-se nesta polpa as sementes, que têm a figura de um rim, maiores que lentilhas, cobertas de uma casca negra, crustácea e cheia de um pó branquíssimo.” (Auxiliador da Indústria Nacional, t.9, p.294). A Cochinilleira abunda assim como as outras espécies de Opuntias e Cacteas, nos lugares arenosos das praias, nas caatingas, nos sítios agrestes; a cultura e propagação da planta é fácil, basta conservá-la limpa de outros vegetais e, para a reprodução, picar no chão porções de ramos que se põem a secar até as feridas do corte fecharem. “A criação da Cochonilla coccus da ordem das hemípteras”, diz o Manual do Agricultor Brasileiro, p.68, “consiste em dispor no centro de cada pé de Urumbeba um ninho de insetos coxonillas. Esses ninhos contam de umas folhas de Opuntia guardada da última colheita, durante a estação chuvosa que destrói os insetos; nelas se conservam as mães, que cada uma por si larga milhares de ovos. Os ninhos devem ser seguros e virados para o lado do sol para que os filhos nasçam depressa. Estes brevemente aparecem do tamanho de uma gotinha de alfinete de cor vermelha, cobertos de uma poeira esbranquiçada e não tardem em se espalhar sobre as folhas, nas quais fica a tromba. As fêmeas vivem dois meses, os machos um. Ambos passam dez dias em estado de larvas, quinze no de crisálida, ao fim dos quais os insetos perfeitos se apresentam – os machos com as asas e as fêmeas de dobrado siso, somente com a pele mudada. Aqueles copulam e morrem; estas sobrevivem um mês enquanto aumentam de volume, parem e morrem. No decurso de um ano, esses insetos fazem seis gerações, porém as colheitas se limitam a três. A primeira, das mães dos ninhos que pereceram; a segunda, das filhas destas ainda vivas, depois que pariram; a terceira de toda casta existente, menos as mais que guardam nos ninhos. A colheita é feita com folhas de madeira chatas e rombas. Os índios, para matarem as coxonilhas, as mergulham dentro de cestinhos, em caldeiras de água a ferver e logo depois as põem ao sol para secarem. Por esta operação, grande porção da poeira branca fica diluída e o grão fica de cor pardo-avermelhada; chamam esse tipo em espanhol “denegrida”; outros a matam em fornos ou chapas de metal, métodos inferiores. A coxonilha que dá o primeiro fica cinzenta e se chama jarpeada. O último a torna negra, e é o nome que lhe dão.” O comércio da coxonilha acha-se hoje aniquilado no Brasil por culpa dos lavradores, os quais, querendo aumentar os seus lucros, misturaram os grãos de farinha nos lotes, e logo descoberta a fraude, o gênero adulterado perdeu o crédito nos mercados. Também a cultura do café tem concorrido muito para a cessação da indústria cochenilheira. Segundo as práticas de certas províncias, obtinha-se a criação da coxonilha, de preferência sobre certos cactos. Assim, no Rio de Janeiro e na Bahia, operava-se sempre sobre as espécies Cardão do Brasil ou Cactus tuna conhecida também pelo nome de Salmatoria e sobre a Gerumbeba ou Urumbeba de frutos encarnados ou Cactus opuntia cochenillifera, que os portugueses designam, impropriamente, pelos nomes de Figueira do inferno ou Figueira da Índia. Nos arredores de Jacuípe, a planta da Coxonilha é o Cactus tuna de Linneo. Diz o autor da memória publicada no 1º tomo do Auxiliador, p.19, que o Cordão do Brasil, planta vistosa pela bela cor de suas frutas, pelo verde claro de seus ramos, cria-se em terrenos secos, por entre pedras e pedregulhos em tanta abundância que por todo o sertão de Jacuípe, Camisão e Japicará, se encontram matas quase inteiras desta planta. Além do termo da Vila da Cachoeira, observa-se a mesma planta nas muitas partes das províncias da Bahia e do litoral marítimo do norte. Hoje, o café tem substituído a cultura dos Cactos em certos lugares e em quase todos se tem abandonado por cuidar-se de outros interesses. Todavia, seria de bom proveito se os lavradores procurassem levantar o prestígio de um produto tão útil e de tão fácil criação. Recomendamos que a sorte da cultura do chá já pouco favorecida converte o nosso desejo em voto estéril. A exportação da Coxonilha hoje, pelos portos do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco e do Maranhão reduz-se a um algarismo sem valor.
Análise Química. As duas análises feitas na França por professores hábeis, Mrs. Pelletier e Caventou, e na Inglaterra pelo químico John, tiveram os seguintes resultados. Segundo os primeiros, a Cochenilla contém carneína, matéria animal particular, estearina, oleína, ácido cheiroso, fosfato e carbonato de cal, hidroclorato de potassa, fosfato de potassa, potassa unida com um ácido orgânico (Annales de Chimie, t.7). A análise de John apresenta: corpo gordurento análogo à cera, matéria colorante, gelatina, mucos, partes membranosas, idroclorato de potassa, amoníaco, potassa de cal e ferro unidos ao ácido fosfórico (Écrits chimiques, t.4).
Propriedades. Desde o século XVII, introduziu-se nas artes de tingir panos e sedas a Cochonilla para dar a eles uma cor viva escarlate, e outra cor carmesim mais brilhante que sólida. Veio depois a Cochonilla para a fabricação do carmim e da laca vermelha. Na farmácia, emprega-se para colocar certas tinturas, o alkermes, os opiates e pós para dentes. A farmacopeia de Amsterdam indica uma tintura de Cochonilla alcoólica. Em medicina, teve a Cochonilla bem pouca aceitação. Todavia, Chameton acreditou que ela fosse diurética e sudorífica e vários médicos a tiveram por eficaz para desfazer os cálculos bexigais e desvanecer a tosse convulsa. O Dr. Wachel de Viena da Áustria receitava contra a coqueluche quinze gr de Cochonilla em pó, quinze de carbonato de potassa com sete onças de água açucarada e prescrevia três colheres de sopa por dia. Na Escócia, a tal mistura acha-se hoje geralmente introduzida nas práticas médicas (Revue Médicale, XI, 1844 ).