Cicuta

Conium maculatum, Cicuta malhada, Cicuta terrestre, Família das umbelliferas ou umbrelladas

Cicuta

  História Natural. Frei Vellozo, na sua Flora Alográfica, descreve o Conium maculatum, “Raiz bienal, adelgaçada, algumas vezes aforquilhada, comprida de oito ou dez polegadas e quase com um dedo de grossura. Talo alto com cinco ou seis pés, roliço, lusidio, rodeado de pelos e pontas amoradas, arramadas e caneladas para o topo e, na base, quase três polegadas em torno, coberto de uma exsudação azulada com a aparência de um pó sutil; folhas inferiores, grandes, três vezes empenadas, de uma cor verde luzente, situadas pelo comprimento, caneladas côncavas; com os pecíolos inseridos junto às articulações ou nos talos; as folhas superiores mais pequenas, duas vezes empenadas e situadas nas divisões dos ramos; inflorescência umbrelada ou aquitasolada, e se dão duas quitações da umbela universal e parcial, compostas de muitos rádios ou ponteiros. O envoltório universal consta de cinco ou sete folhas lanceoladas, esbranquiçadas nas  margens, dobradas para baixo; o parcial, de três ou quatro folhas, postas ao lado de fora dos ponteiros e dos rádios; corola, cinco pétalos ovais, brancos e curvados para dentro nas suas pontas. Cinco estames, brancos, quase do comprimento da corola. Anteras esbranquiçadas, dois estiletes filiformes, inclinados para a parte de fora, estigmas redondas, perigônio oval, canelado, sementes irregularmente hemisféricas, pardas”.

    Análise Química. As folhas frescas são compostas de um suco que encerra resina, princípio extrativo, goma, albumina, fécula verde, ácido acético, sulfato, hidroclorato e nitrato de potassa, malato e fosfato de cal, fosfatos de magnésia, de ferro e de manganesa (Schrader, Journ. de Schweiger). As cinzas analisadas pelo Wrightson e Liebig dão ácido carbônico e carvão, areia, sílica, cloro, óxido férrico, cal, magnésia, potassa, soda, ácido fosfórico, sulfúrico, fosfato de ferro e de cal, sulfato * e clorato de soda. (Annales de chimie)

   Propriedades. Possuímos transplantadas as quatro espécies de cicuta que nascem nos lugares umedecidos pelos combros e regueiras: a Cicuta menor, a Cicuta aquática e a Cicuta terrestre ou Conium maculatum. É fácil confundi-las com o Felândrio aquático ou com o agrião que são vulgares. A Coneina, descoberta pelo professor Geiger, é o princípio ativo da Cicuta.que se acha em todas as partes da planta, sobretudo nas sementes. Substância alcalóide, oleosa que tem muita analogia com o princípio ativo do tabaco, a nicotina. Sua ação sobre a economia animal é muito ativa, pois uma gota basta para matar um pombo. Os ácidos diminuem muito a sua ação venenosa. O Conium maculatum ou Cicuta malhada é planta venenosa, cuja atividade regula-se sobre a idade da planta. Sua exposição ao sol e à temperatura do clima nos países tropicais torna-se  o princípio tóxico mais ativo do que se observa nas zonas temperadas ou frias, apesar de o Dr. Nelligan asseverar que o princípio ativo da Cicuta se altera e desfaz-se pela influência do calor. Mr. Orfila diz que a Cicuta recém-colhida, fresca ou cozida é sempre veneno ativo. As folhas e a raiz oferecem, em certas épocas da vegetação, um sumo deletério; esse princípio parece ressaltar a presença da Conium, descoberta por Brandes. São frequentes os envenenamentos com esta planta porque tem sido confundida com a salsa, o funcho, a pistaca e outras. Um soldado bebeu um caldo em que haviam lançado folhas de Cicuta. Veio-lhe uma congestão cerebral tão violenta, que sucumbiu em três horas. Comida em saladas por engano e tomada por agrião, provoca convulsões tetânicas. Christison refere-se a numerosos casos. O mais curioso é a história de dois frades que, havendo comido a raiz de Cicuta, endoideceram. Julgando-se transformados em patos, se atiraram a um tanque onde se iam afogando. Por três anos sofreram paralisias incompletas e dores nevrálgicas. A ação da Cicuta sobre o homem, diz o Giacomini (Matéria Médica, p.471),  é de provocar primeiro o desejo de comer, de aumentar a força digestiva, porém logo depois vem o efeito nocivo, a sede acresce a ansiedade, aumenta a secreção urinária, cessam os desejos venereos, sobrevêm náuseas, arrotos, tonteiras, obscurecimento da vista, tremores de membros, convulsões e síncope, ou atonia do sistema muscular, delírio, e coma. A autópsia cadavérica manifesta um ingurgitamento de sangue preto em todos os vasos venosos, na veia-porta e nos sinus da dura-madre; os bofes ficam cheios de manchas denegridas, porém o estomago conserva-se no seu estado normal. Eis os efeitos tóxicos que apresenta Giacomini. Agora prevalece-se da ação da planta para a considerar como um ativo hipostenizante linfático glandular, uma vez que se deseja contemplar a Cicuta sob a visão terapêutica. Stork tem elogiado muito a Cicuta contra as lesões cancerosas, os ingurgitamentos das glandes. Com efeito, a prática tem apoiado as propriedades salutares, sobretudo nos enfartos de glândulas e tumores linfáticos. Muitos clínicos conseguiram curativos felizes com as preparações de Cicuta em casos de febres nervosas, de afecções verminosas, de nevralgias rebeldes. Uma questão difícil é de bem precisar a dose da Cicuta que se deve administrar, pois a energia da planta varia de inúmeros modos. Prescreve-se a Cicuta em pós na dose de dois a quatro gr.; o extrato é preferido. Stork receitava primeiro dois gr. de extrato, dado de noite em pílulas e aumentava a dose gradualmente até meia oitava. Uma receita útil para resolver os enfartos glandulares é a seguinte: “Hidriodata de potassa quatro gr., extrato de Cicuta seis gr. Faça sete a oito pílulas e administre duas por dia (Giacomini). O emplasto de Cicuta é mais eficaz que qualquer outro para desvanecer os tumores ou bubões ou glândulas do seio. O cataplasma faz-se com folhas frescas e leite para acalmar as dores agudas das partes inflamadas. Alguns misturam as folhas pisadas com a farinha de linhaça e água de papoulas fervidas. Combate-se o envenenamento causado pela Cicuta primeiro pelos vômitos, dando tartro estibiado em lavagem aos pós de Ipecacuanha diluídos e segue-se imediatamente o uso das bebidas ácidas e mucilaginosas.

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