A Preservação dos Acervos Arquivísticos
Antes da digitalização de qualquer arquivo histórico, o tratamento físico de cada documento, visando sua preservação ou restauração, é fundamental. O núcleo do MAST responsável por essa atividade é o Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos em Papel (LAPEL).
A base de dados Zenith conta, atualmente, com o inventário de dezoito acervos do Arquivo de História da Ciência (AHC) do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). O Arquivo do Museu passa por um processo de digitalização que permitirá ao público interessado o acesso remoto ao conteúdo dos documentos. Já foram digitalizados o arquivo pessoal de Luiz Cruls e, parcialmente, o do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
É fundamental, porém, antes da digitalização de qualquer arquivo histórico, o tratamento físico de cada documento, visando sua preservação ou restauração. Esse é um processo demorado e que requer extremo cuidado. O núcleo do MAST responsável por essa atividade é o Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos em Papel, o LAPEL.
Como afirmou Ana Cristina de Oliveira Garcia, responsável pela equipe de especialistas no tratamento de documentos do LAPEL, ao portal: “Há uma diferença entre o documento digitalizado antes e depois de tratado. Muitas empresas querem melhorar a qualidade da imagem apenas de forma digital, isso deve ser evitado”. Ana acrescentou ainda que se um documento é digitalizado sem ser antes tratado ele corre o risco de precisar sofrer com uma nova digitalização, o que pode ser prejudicial para o papel, “a luz [do scanner] pode acelerar o processo de degradação química do documento”.
O trabalho do Laboratório com o arquivo começa depois de sua organização e codificação. Ao chegarem ao LAPEL, os documentos passam por algumas etapas: primeiro eles ganham uma ficha e é feita uma avaliação de sua situação física, as características do papel, suas medidas, o tipo de tinta utilizado, os danos sofridos, etc. O diagnóstico, presente na ficha, guiará o tratamento a ser realizado.
Depois há a fase de higienização, “todos [os documentos] têm que passar pela higienização. Independentemente do tratamento que ele vai receber, [o papel] precisa ser higienizado” afirma Ana. “A gente faz uma higienização chamada ‘higienização mecânica’, que pode usar trincha, pó de borracha, borracha bastão - depende do tipo de documento”. A pesquisadora conta que o LAPEL trabalha com papéis dos mais diversos tipos, de folhas A4 comuns a jornais e até “folhas de cópia” muito finas. “A técnica de higienização vai depender do tipo de gramatura de folha. Pode ser só uma varredura com trincha”, explica. É na higienização também que verifica-se a presença de qualquer inseto ou microorganismo prejudicial ao papel.
Depois, passa-se à etapa onde o documento será restaurado, se necessário. “Depois da higienização, a gente olha a ficha e fala – ‘esse tem um rasgo, esse tem uma dobra’ - e a gente pode fazer um pequeno reparo”. Além dos reparos, há também a possibilidade de um banho químico, se o papel estiver muito acidificado, para evitar futuros danos.
“A idéia é que então você coloque [o documento] em um local de guarda adequado, para ter o que você chama de conservação preventiva. Eles vão sofrer um processo de degradação porque é material orgânico – papel, tinta -, mas vão sofrer mais lentamente.”
Segundo Ana, o desafio a ser enfrentado atualmente pelo LAPEL é que o processo de digitalização é muito mais rápido que o de tratamento, “então temos um gargalo no laboratório porque não conseguimos atender a demanda da digitalização”.
O Arquivo de História da Ciência do MAST tem planos para digitalizar, num futuro próximo, o acervo do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil (CFE). Esse arquivo encontra-se hoje em processo de tratamento pelo LAPEL, mas ainda não há uma estimativa de quando o trabalho será concluído. “são mais de 30 pastas... [para] estimar o tempo, a gente precisa desse diagnóstico pronto, para dizer com quantas pessoas vamos trabalhar, quais são os documentos que vão precisar ser restaurados, etc.”