Além do Céu

Concepção artística do exoplaneta Kepler-186f. Crédito - NASA

Em abril deste ano, astrônomos da Nasa divulgaram as observações do que seria o primeiro planeta descoberto com dimensões parecidas às da Terra e orbitando a sua estrela na zona habitável – região distante o suficiente para que o planeta não seja nem tão frio, nem tão quente, podendo abrigar água líquida em sua superfície e, possivelmente, a vida. O Kepler-186f orbita a estrela anã Kepler-186, na constelação de Cisne, a 500 anos luz da Terra.

A busca por planetas fora do Sistema Solar, conhecidos como exoplanetas ou planetas extrassolares, tem guiado boa parte das pesquisas astronômicas nos últimos anos, não sendo raras as notícias de novos corpos celestes do tipo encontrados na zona habitável de seu sistema estelar. Essa procura por um mundo semelhante ao nosso tenta responder, principalmente, se estamos, de fato, sozinhos no Universo ou se há vida fora daqui.

Mas a pesquisa sobre exoplanetas não se limita a isso. A infinidade de objetos dessa natureza no espaço tem como conseqüência uma quantidade imensa de formas, composições, tamanhos, cores e movimentos diferentes desses planetas pelas galáxias. O telescópio espacial Kepler, da NASA, era um especialista em caçar exoplanetas a partir da sombra que geram ao passar em frente a suas estrelas. Tendo localizado 995 planetas extrassolares e mais 4.234 candidatos ainda a serem confirmados, o telescópio encontra-se hoje desativado por problemas de funcionamento em algumas peças.

Devido ao fato de não emitirem luz própria, os estudos sobre a atmosfera e a superfície desses planetas são muito mais difíceis do que o de estrelas, por exemplo, bem como a descoberta de novos corpos celestes dessa espécie. A situação é ainda mais complicada quando se procura por Planetas Telúricos, também conhecidos como planetas rochosos, que tendem a ser muito menores que seus parentes gasosos. Pode-se observar isso no nosso Sistema Solar, onde a Terra, seu maior planeta rochoso – seguida por Vênus, Marte e Mercúrio – é cerca de 1300 vezes menor em volume que Júpiter, seu maior planeta gasoso.

Ainda assim, em junho deste ano foi divulgada a descoberta de um planeta rochoso gigante, o Kepler-10c, apelidado de Godzilla ou Mega-Terra. Com 2,3 vezes o diâmetro da Terra, 17 vezes a sua massa e o dobro de sua força gravitacional, a Mega-Terra é um achado inédito para os cientistas, que acreditavam que uma rocha de tais dimensões acabaria por se tornar o núcleo de um gigante gasoso, recolhendo o hidrogênio presente nas “nuvens” encontradas próximas às estrelas quando formam sistemas planetários.



Tratando-se de planetas gasosos, existem gigantes como o TrEs-4b, 70% maior que Júpiter, localizado na constelação de Hércules. Há ainda objetos curiosos, como o TrES-2b, o planeta mais escuro já encontrado, refletindo menos de 1% da luz que incide sobre ele – mais negro que o carvão. Astrônomos acreditam que tamanha escuridão se dá devido à composição da atmosfera de TrES-2b, provavelmente rica em elementos que absorvem quase toda a luz que recebem, como vapor de sódio, potássio e óxido de titânio.

Os exoplanetas são encontrados orbitando sistemas estelares simples e com duas ou mais estrelas. Planetas em sistemas binários, como o NN Serpentis – lar de dois gigantes gasosos -, podem orbitar apenas uma das estrelas ou as duas ao mesmo tempo. Há também os chamados planetas interestelares, ou planetas órfãos, que viajam pelas galáxias independentes de uma órbita estelar.

A descoberta do primeiro planeta extrassolar é relativamente recente, tendo acontecido apenas em 1995. Hoje, quase dois mil objetos do tipo já foram identificados. Acredita-se, porém, que eles podem ser tão comuns quanto as estrelas. Com a construção de mega-telescópios, como o E-ELT, do ESO (European Southern Observatory), é provável que a descoberta de exoplanetas se torne cada vez mais comum, assim como a de planetas possivelmente habitáveis. O advento desses aparelhos contribuirá para esclarecer também as características atmosféricas e os elementos que compõem esses corpos celestes, ainda muito pouco conhecidos.


Imagens: Concepção artística/crédito: NASA