A luz e a mitologia


A Luz e o Fogo: A Ciência e a Tecnologia

Toda sociedade explica como o que antes não existia passou a existir, por isso não há sociedade sem mito e sem cosmogênese. Todas as mitologias que narram a criação do universo se referem a um antes e a um depois que surgiu a partir de um evento único, irrepetível e singular. Esse antes corresponde a um estado sempre igual, fechado em si mesmo a que denominamos caos: o sem forma, o sem fundo, o desordenado e, por isso mesmo, impensável, ininteligível. Já o depois corresponde a algo que é dinâmico e aberto, o cosmos, o que tem forma, ordem; o que pode ser analisado, interpretado, conhecido, classificado, em suma, simbolizado.

Em síntese, pode-se dizer que a partir de um estado de completa escuridão - a noite originária, como a chamam os Guarani -, a percepção da luz, como aquilo que permite o inteligível e o pensável - ao e lado do domínio do fogo, daí decorrente -, fez e continua a fazer parte do salto quantitativo e qualitativo pelos quais passaram e passam todos os povos.

Imagem do Sol:
Imagem da ejeção de massa na coroa do Sol fornece uma ótima visão sobre o evento ocorrido nas datas de 17 e 18 junho de 2015.
O Solar Dynamics Observatory da NASA captou o evento no comprimento de onda de luz ultravioleta. NASA/SDO

O Mito
Em todas as mitologias, a luz se faz e proporciona aos humanos a possibilidade de distinguir formas, cores, profundidades, camadas que se superpõem. Os exemplos se multiplicam, e menções à existência, primeiro, da noite e, posteriormente, ao aparecimento da luz (do dia) são comumente encontradas em diferentes mitos.

MITOLOGIA CRISTÃ
Na mitologia cristã, Deus ordena que se faça a luz e a luz se fez. A feitura da luz é o primeiro ato de criação divina, depois da qual as demais coisas vão surgindo no tempo mítico da criação.

MITOLOGIA GUARANI
Na mitologia Guarani (grupo étnico do Tronco Tupi), Nhamandu, a divindade criadora do universo, molda a luz a partir da luminosidade de seu coração e, deste modo, faz surgir a distinção entre noite e dia, sendo que o dia é reservado à maioria das ações humanas, dentre elas, o conhecimento verdadeiro das coisas. Devido à sua origem divina, o disco solar é reverenciado como a imagem visível dessa divindade, e também como um símbolo de sua presença e proteção. Por essa razão, a Opy (Casa de Reza) é construída de forma que a parede, junto a qual, do lado de dentro, são colocados os instrumentos sagrados, fica voltada para o nascente.

MITOLOGIA GREGA
Na mitologia grega, Apolo (para os romanos Febo) é o que brilha, que é luminoso sendo, por isso, relacionado à juventude e à luz; uma divindade que, desde o céu, podia ameaçar ou proteger os humanos. Apolo é identificado com o sol, sua face visível, e com a luz, o que permite contemplar a verdade. Associado à criação poética e ao saber, Apolo exercia seu poder em todos os lugares e tempos, quer sobre a natureza quer sobre o homem.

O Fogo
A palavra fogo deriva do latim focus que, em português, originou duas palavras distintas quanto ao sentido: fogo (com o sentido de lume) e foco (qualquer ponto para o qual converge, ou do qual diverge, um feixe de ondas eletromagnéticas ou sonoras ou um feixe de raios luminosos; também usado como sinônimo de atenção). O fogo é também uma fonte luminosa, uma espécie de substituto da luz natural, assim como as velas, as lâmpadas, os holofotes, o laser etc...

O fogo é um fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo. Há, assim, o fogo natural, gerado, por exemplo, por um raio que provoca incêndio. E há o fogo cultural, aquele que foi criado e é recriado pela ação humana e incorporado ao modo de viver dos diversos povos. Neste sentido, o fogo pode ser associado à tecnologia, tal como os instrumentos de caça, de pesca, de guerra, de produção de conhecimento, desde um pequeno galho em chama ao fogo nuclear.

O domínio do fogo foi fundamental para a humanidade. Não só porque pôde iluminar e proteger seu espaço de vivência, mas também porque pôde ajudar a produzir o alimento cozido, além de implementos que auxiliam na realização de muitas de nossas tarefas.

É bem conhecido o mito grego de Prometeu, aquele que roubou o fogo sagrado e o presenteou aos homens. Ao fazer isso, Prometeu ofendeu aos deuses e, como punição por seu ato de propiciar os homens a posse de um instrumento tão poderoso, foi condenado ao sofrimento sem término.

Para os Kayapó (grupo étnico do Tronco Macro-Jê) o fogo e o brilho das estrelas estão associados. De acordo com a mitologia desse povo, o universo é formado por diversos estratos, de maneira que o céu de um mundo é o solo de outro mundo. E os Kayapó moram em muitos desses estratos. Assim, ao olhar para o céu à noite, um kayapó observa o brilho das fogueiras dos Kayapó que moram no mundo imediatamente acima do deles.